O Repórter

Após 48 horas, Lula se entrega à Polícia Federal

Por Redação...
07 de abril de 2018 às 19:40
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SÃO PAULO (ANSA) - Após mais de 48 horas da ordem de prisão emitida pelo juiz Sérgio Moro, Lula se entregou. O ex-presidente da República teve de deixar o prédio do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, a pé para chegar ao comboio da Polícia Federal que o aguardava.

O líder petista havia feito uma tentativa de sair de carro do edifício, mas acabou bloqueado por militantes que não queriam sua rendição. Ele só conseguiu se entregar após a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, ter alertado os manifestantes que a situação do ex-mandatário poderia se complicar caso ele continuasse no sindicato.

Lula, 72 anos, será o primeiro ex-presidente do Brasil a parar atrás das grades desde a redemocratização. Ele começará a cumprir sua pena de 12 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro na Superintendência da PF em Curitiba, em uma sala especial de 15 metros quadrados com banheiro privativo e chuveiro elétrico, isolado dos outros detentos.

Um avião da Força Aérea Brasileira já está à espera de Lula no Aeroporto de Congonhas, de onde o ex-presidente embarcará para a capital paranaense. Antes, ele ainda passará por um exame de corpo de delito em São Paulo.

48 horas de impasse - Moro determinou a prisão de Lula na última quinta-feira (5), após ter sido informado pelo Tribunal Regional Federal da Quarta Região (TRF-4) que o "caso triplex" já havia concluído a tramitação em segunda instância. O mandado também é resultado da rejeição do habeas corpus preventivo apresentado pela defesa no Supremo Tribunal Federal (STF), por seis votos a cinco.

Os advogados de Lula ainda tentaram recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e ao próprio STF para evitar a prisão, mas os ministros Félix Fischer e Edson Fachin rejeitaram os dois pedidos. Durante as primeiras 24 horas após a emissão do mandado, o ex-presidente não se manifestou e permaneceu confinado no Sindicato dos Metalúrgicos, que era cercado por manifestantes.

Terminado o prazo para ele se entregar, a PF poderia prendê-lo a qualquer momento, mas preferiu negociar os termos de sua rendição. Ficou acertado que Lula participaria de uma missa em homenagem à falecida ex-primeira-dama Marisa Letícia, que completaria 68 anos neste sábado (7), e se colocaria à disposição da Polícia Federal logo depois.

A missa, celebrada de um palanque do lado de fora do sindicato, foi mais um ato político em defesa do ex-presidente. Em um discurso inflamado e messiânico, o petista disse que o "sonho de consumo" dos que o acusam é vê-lo preso. "E vou atender ao mandado deles", declarou.

Ao lado da ex-presidente Dilma, dos candidatos ao Planalto Guilherme Boulos e Manuela D'Ávila e de outras lideranças de esquerda, o ex-mandatário reafirmou sua inocência e acusou a Polícia Federal, o Ministério Público e o juiz Moro de "mentirem" sobre a posse do triplex no Guarujá (SP).

"Nenhum deles tem coragem ou dorme com a consciência tranquila da honestidade e da inocência como eu durmo", declarou Lula. O anúncio de sua rendição veio na parte final de seu discurso.

"Eles decretaram minha prisão, e deixa eu contar uma coisa para vocês: eu vou atender ao mandado deles, e vou atender porque eu quero fazer a transferência de responsabilidade. Eles acham que tudo o que acontece neste país acontece por minha causa", disse.

O ex-presidente acrescentou ainda que o Brasil possui "milhões de Lulas para andar por ele". "Não adianta tentar acabar com minhas ideias, elas já estão pairando no ar, e não tem como prendê-las. Não adianta parar meu sonho, porque quando eu parar de sonhar, eu sonharei com a cabeça de vocês", declarou.

Lula também afirmou que não vai "parar" porque ele não é mais um "ser humano". "Eu sou uma ideia, eu sou uma ideia misturada com a ideia de vocês. Vocês não vão mais se chamar Chiquinha, Joãozinho, Zezinho, Albertinho. Todos vocês, daqui para frente, vão virar Lula e andar por este país. Eles têm de saber que a morte de um combatente não para a revolução", salientou.

"Esse pescoço aqui não baixa. Minha mãe já fez um pescoço curto para ele não baixar. Vou provar minha inocência", concluiu. Ao fim do discurso, Lula saiu carregado pelos militantes. O pronunciamento inflamou seus apoiadores, que permaneceram durante todo o dia no sindicato para evitar que Lula se entregasse.

O ex-presidente cumprirá pena de 12 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no "caso triplex". A acusação diz que ele é proprietário de um apartamento no Guarujá que teria sido dado como forma de propina pela OAS, em troca de contratos com a Petrobras.

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