O Repórter

Padre Miguel traz a influência africana na cultura brasileira com a capoeira

Por Redação...
23 de fevereiro de 2020 às 04:24
Atualizada em 23 de fevereiro de 2020 às 04:30
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Rafael Max/OReporter.com
A Unidos de Padre Miguel se apresentou na Sapucaí
A Unidos de Padre Miguel se apresentou na Sapucaí

RIO (OREPORTER.COM*) - Reconhecida por grandiosos desfiles que trazem a cultura como tema, a Unidos de Padre Miguel levou para a avenida o enredo “Ginga”, assinado pelo carnavalesco Fábio Ricardo, que pela primeira vez apresentou um enredo totalmente afro. A escola, trouxe a capoeira, prática que teve origem na negritude. E quem contou essa história redigida em primeira pessoa, foi a própria Ginga personificada.

O carnavalesco deu vida própria à capoeira em si, aliou fatos históricos, e mostrou que o gingado é o que dá à luta da capoeira características de dança, é o dá ritmo, permite improvisar, expressar o sentimento e a identidade de cada capoeirista, assim como distrair e confundir o oponente. 

A Unidos de Padre Miguel desenvolveu seu enredo com a protagonista narrando sua própria trajetória já dando pistas do que seria apresentado durante o desfile junto à comissão de frente. O enredo fez ainda uma menção as divindades da agricultura afro, Ginga e Okô, e apontou os ritos de de mistérios e verdade de herança carregados pelos negros representados no desfile da escola.


Abre-alas da Padre Miguel (Foto: Rafael Max/OReporter.com) 

A escola veio regada de poesia, com um enredo que apresentou uma clara referência ao movimento diaspórico. Aconteceu uma ênfase ao movimento dos navios negreiros, onde o personagem central, a Ginga, seguiu viagem acompanhada de dor e lamento, por ser arrancada do colo do solo materno para cruzar a imensidão dos mares com destino ao continente Americano, às terras brasileiras, onde todo o gingado teve resistência diante dos algozes que açoitavam e escravizavam o povo africano.

A Vermelha e Branco de Padre Miguel, apresentou cenários de das ruas, feiras, festa, e ilustrou as telas do realismo. A escola retratou o momento em que a capoeira se tornou uma expressão que passou a pertencer a cultura local. O momento onde a Ginga passou a carregar consigo não somente a ideia de dança, luta e canto, mas também adquiriu uma filosofia que transmite os valores da tradição de Angola.

A protagonista do enredo, é uma espécie de guardiã da cultura negra em terras estrangeiras, e carrega o karma da perseguição por parte dos que a negam como cultura, da mesma forma que negam ao povo africano o direito de resistir e existir de forma livre, sendo criminalizado. Ainda que ela, a Ginga, seja uma guerreira nativa de um povo que não esmoreceu à opressão, nem tombou diante do açoite, e resiste mesmo sendo censurada e moldada ao olhar do opressor.

A Unidos de Padre Miguel, tal qual a Ginga, veio em busca de ganhar espaço, e se firmar junto às grandes escolas do carnaval. A Vermelho e Branco apresentou um desfila com uma forte expressão de luta, resistência e de formação cultural do povo brasileiro. A agremiação fez um bonito desfile, carregado de emoção, e presenteou a Sapucaí com um enredo poético, que trouxe para a avenida um contexto histórico baseado na trajetória do povo preto do nosso Brasil. 

O principal problema, contudo, foi no primeiro carro, que representava a agricultura e os agricultores de Okô. A segunda parte da alegoria teve dificuldades para entrar e acoplar na parte da frente. O abre-alas acabou entrando sem algumas partes de isopor, o que pode fazer a escola perder décimos preciosos. 

De resto, a escola apresentou um desfile arrojado, trazendo a contribuição da cultura africana para a mistura que é a identidade brasileira, tendo como base a capoeira. A agremiação deve brigar por uma boa posição na apuração da quarta-feira de cinzas. (*colaboraram Rafael Max e Jaqueline Araújo)

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