O Repórter

Sucesso no Brasil com 'Changeman', franquia Super Sentai segue atual no Japão

Formato com heróis coloridos que combatem monstros é a base para 'Power Rangers' no ocidente

Por Rafael Max
28 de março de 2020 às 21:00
Atualizada em 20 de setembro de 2020 às 01:08
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Reprodução
Kiramager é o Super Sentai de 2020 no Japão
Kiramager é o Super Sentai de 2020 no Japão

RIO (OREPORTER.COM) - Equipe de heróis que combate um império que tenta conquistar o mundo. Cada integrante veste um uniforme de determinada cor e a equipe usa um arsenal de batalha que inclui um robô gigante no combate a monstros. A descrição lembra muitos seriados que o leitor deve ter visto na infância. Desde os japoneses "Changeman" e "Flashman" dos anos 1980, até os americanos "Power Rangers" dos anos 1990 em diante. Mas esses programas têm muito em comum do que apenas os trajes que usam nas batalhas exibidas na televisão. 

No Japão, a franquia Super Sentai (algo como "super esquadrão" no idioma japonês) é bem mais longa do que muita gente pensa. O formato foi apresentado aos brasileiros em 1988, quando "Changeman" (1985, no Japão) foi ao ar na Rede Manchete. Depois, em 1989, chegou ao ar "Flashman" (1986). Por fim, em 1991, estreou "Maskman" (1987). Os brasileiros ainda viram "Goggle V" (1982), que foi ao ar em 1990, na Band. Só que a história da franquia não parou nessas quatro séries, tendo muita coisa antes e depois do que passou por aqui. E para quem acompanha as reprises de "Changeman", que voltou ao ar na última semana pela Band, é bom saber como esse formato existe em terras nipônicas.


"Changeman" é uma das séries Super Sentai mais conhecidas pelos brasileiros (Foto: Reprodução)

A franquia Super Sentai existe desde 1975, sendo "Gorenger" a primeira série a ser lançada. Em seguida, em 1977, entrou no ar "JAKQ", com os integrantes representando  naipes do baralho. A terceira, "Battle Fever J" (1979), teve um apoio da Marvel, que lançara a versão do "Homem-Aranha" um ano antes. Foi neste programa que introduziu a figura do robô gigante, que passou a ser presente em todas as séries. A atração do ano seguinte, "Denziman" (1980), já apresentava os heróis com uniformes padronizados, bem semelhantes às séries que foram lançadas no Brasil.

No Japão, todo ano é assim: os estúdios Toei lançam um seriado com essa temática, que substitui a do ano anterior, tal qual as nossas novelas no Brasil. A diferença é que os episódios são exibidos semanalmente, geralmente aos domingos. A série de 2020 é Kiramager, que entrou ao ar na televisão japonesa há pouco tempo, no dia 8 de março. No total, são 44 seriados já lançados só com esse formato.


Os quatro primeiros Super Sentais: "Gorenger", "JAKQ", "Battle Fever J" e "Denziman" (Foto: Reprodução)

Passando a mensagem

Trabalhados para o público infantil e motivado pela venda de brinquedos, os Super Sentais também não deixam de tentar dar uma lição de moral para a garotada. E com "Kiramager" não é diferente. A série mostra cinco heróis recrutados pela princesa do planeta Cristalia através das pedras Kiramei. Cada integrante é dotado de uma capacidade individual, ou um "espírito brilhante" chamado de "kiramental".

Assim, são recrutados os seguintes heróis: a médica Sayo Oharu (interpretada por Mio Kudo), que usa o uniforme rosa; o ator Shiguru Oshikiri (Atomu Mizuishi), que veste o traje azul; o jogador de videogame Tametomo Imizu (Rui Kihara), o amarelo; e a velocista Sena Hamyami (Yume Shinjo), que usa o uniforme verde.


Os personagens de "Kiramager" e as pedras Kiramei (Foto: Divulgação)

O vermelho acabou ficando para o final. O estudante imaturo, mas dotado de grande imaginação Juru Atsuta (Rio Komiya) usa o uniforme que, em tese, é a do líder. Na série, os outros integrantes até estranham o comportamento do jovem, mas percebem que sua grande utilidade é a capacidade de desenhar e usar sua imaginação para que as pedras kiramei se transformem nas máquinas que viram o grande robô do grupo.

E isso acaba virando o grande mote de "Kiramager": o respeito da individualidade de cada um. Independentemente do que as pessoas são, há sempre alguma habilidade especial que se sobressai. 

Por curiosidade, quem interpreta o personagem Muryo Hakataminami, que virou o "cabeça" do grupo por ter criado alguns equipamentos para os heróis, é o cantor e comediante Daimaou Kosaka. Ele é também assina pelo pseudônimo Pikotaro, sendo conhecido por muitos pelo clipe "Pen-Pineapple-Apple-Pen", que viralizou na internet.

Como Super Sentai tem que atrair a garotada, não pode faltar brinquedo. Tudo o que é utilizado entre os personagems - entra armas, equipamentos e os robôs - pode ser comprado para agradar a garotada, já que a franquia pega uma faixa que começa a partir dos seis anos de idade. E os comerciais começam a invadir a televisão japonesa semanas antes da estreia.


Anúncio do brinquedo do robô de "Kiramager" (Foto: Reprodução)

No Brasil

O desinteresse pelas séries do gênero tokusatsu por parte de distribuidoras não impede que esses programas sejam acompanhados por quem vive de fora do Japão. Pelo menos desde o começo da década de 2000 - ou seja, pouco tempo depois do fim da Rede Manchete - há pessoas no Brasil que fazem a legendagem desses seriados de maneira não-oficial. O meio para compartilhar arquivos utilizado nessa época era através do MirC, aquele clássico programa de bate-papos.

Uma matéria publicada pelo jornal Folha de S. Paulo em 19 de julho de 2006 mostrava a realidade de quem procurava séries japonesas para baixar. A plataforma mais usada na época eram as redes BitTorrent - protocolo descentralizado de troca de arquivos, na qual o download pode ser buscado através de milhares de máquinas espalhadas que possuem aqueles dados específicos.

Na época, as série Super Sentai do momento eram "Magiranger", a 29ª série da franquia que tinha o tema de magia e que foi base para "Power Rangers Força Mística", e "Boukenger", a 30º programa e que trazia veículos e busca por relíquias, sendo base para "Power Rangers Operação Ultraveloz".  


"Magiranger" foi a 29ª série Super Sentai (Foto: Reprodução)

A matéria explicava também sobre os grupos que legendavam os programas, os chamados fansubbers. Atualmente, o panorama segue praticamente o mesmo: cada episódio trazido do japonês para o inglês e, finalmente, para o português, levando alguns dias para chegar aos brasileiros. 

Nos EUA

E como já dá para entender, a franquia Super Sentai gerou interesse dos produtores dos Estados Unidos. O empresário israelense Haim Saban já se interessava pelos herois coloridos desde "Bioman" (1984), mas foi somente com "Zyuranger" (1992) que ele conseguiu trazer o formato para a televisão americana, transformando-a em "Mighty Morphin Power Rangers", lançada em 1993. 

Quando "Power Rangers" foi lançado na televisão aberta brasileira, já no começo de 1995, o modelo de Super Sentai já estava em baixa por aqui, sendo restrito a algumas reprises. A chegada desse seriado deu um novo fôlego ao formato no Brasil, mas só quem leu a revista "Herói"  sabia, na época, como era feito.

Para quem ainda não sabe, "Power Rangers" é nada mais é do que uma adaptação norte-americana do conteúdo  japonês. Nos Estados Unidos, eram gravadas as cenas com os heróis no formato civil, mesclando-as com as cenas de combate e de robôs de "Zyuranger".  E tudo isso com bastante cooperação entre os produtores japoneses e americanos, pois já nos primeiros anos a Toei gravava tomadas próprias para a versão ocidental. Ou seja, nada de "cópia", conforme diriam alguns fãs de tokusatsu mais afoitos.


Os uniformes e equipamentos de "Zyuranger", para os japoneses, e "Mighty Morphin Power Rangers", para os ocidentais (Foto: Reprodução)

 

Tanto que o roteiro não precisa nem seguir à risca com o original japonês. Enquanto que  "Mighty Morphin Power Rangers" fala sobre jovens estudantes recrutados por Zordon para combater os planos de Rita Repulsa, libertada de uma cápsula após 10.000 anos, "Zyuranger" mostra a história de cinco guerreiros  que despertam da hibernação após 170 milhões de anos para lutar contra a bruxa Bandora. A única coisa em comum é o fato de astronautas terem libertado a vilã, sendo esta interpretada pela atriz japonesa Machiko Soga (também conhecida por fazer Aracnin Morgana, em "Jiraiya").

E, desde então, cada temporada de "Power Rangers" se baseia no sentai da vez no Japão. "Carranger" (1996), por exemplo, é base para "Power Rangers Turbo" (1997); "Gingaman" (1998) virou "Power Rangers na Galáxia Perdida" (1999); "Timeranger" (2000) se tornou "Power Rangers Força do Tempo" (2001); "Go-Onger" (2008) virou "Power Rangers RPM" (2009), só para citar alguns exemplos.

Atualmente, a temporada que está no ar é "Power Rangers Morfagem Feroz", baseada em "Go-Busters", série de 2012. A próxima chegará em 2021 e nem foi batizada, mas utilizará uniformes de "Ryusoulger" (2019), voltando à temática de dinossauro. A franquia, hoje em dia, está nas mãos da gigante de brinquedos Hasbro, que demonstra bastante empolgação com o formato, tendo planos para lançar mais um filme com a temática, ainda sem dara definida para lançamento.


"Power Rangers Morfagem Feroz" usa "Go-Busters" como base (Foto: Divulgação)

O sucesso de "Power Rangers" fez com que os sentais japoneses fossem comercializados nos Estados Unidos em DVD. Isso inclui "Zyuranger", que deu origem à primeira temporada da série norte-americana, ou até mesmo seriados que nem foram adaptados pelo ocidente, como "Jetman" (1991). Tudo isso para explorar um nicho criado com a chegada dos heróis coloridos em território norte-americano.


"Ryusoulger" será a base para a proxima temporada de "Power Rangers" na televisão norte-americana (Foto: Divulgação)

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