RIO (OREPORTER.COM*) - A Unidos de Bangu, terceira escola a passar pela Sapucaí, contou a história do povo Congolês a partir das “Memórias de Griô”, o primeiro habitante contador de histórias do povo africano. O ancestral que deu nome ao enredo da escola da Zona Oeste do Rio, foi uma personagem que esteve presente durante toda a formação do continente africano, até a chegada da colonização européia, e por preservar em sua memória a história de seu povo, Griô ficou conhecido como o guardião do Congo.
A agremiação contou a história da diáspora africana pela visão de Griô, que assistiu a tudo como forma de tortura. Este personagem central viu o rei ter o seu coração corrompido e comercializar seus irmãos de pele lançando dor e sofrimento a bordo de navios tumbeiros.
Com harmonização do enredo a Unidos de Bangu contou a história do período que auxiliou na formação das bases sociais atuais. A escola contou através de sua narrativa, a memória captada por Griô na forma de oralidade. E apesar de o enredo situar o público ao tempo histórico em questão, a Vermelho e Branco conseguiu expor de forma cronológica este período tão antigo e distante, mas que acabou se tornando atemporal.
A Unidos de Bangu fez uma viagem e conseguiu mostrar em seu desfile a preservação da história dos negros africanos, através da magnitude da memória da oralidade, advinda de Griô. O carnavalesco Bruno Rocha contou de forma direta o sofrimento do negro congolês, que foi muito além do período de quando estes já eram escravizados, e focou principalmente na migração forçada pela qual esses congoleses passaram.
No desfile foi possível ver a presença das atividades econômicas predominante pelos congoleses, a força do comércio local, e o retrato das lágrimas e do sofrimento dos habitantes desta civilização que um dia já foi fortemente estruturada. Em meio à alas que retrataram os escravos, vimos passar pela Sapucaí a simulação da atividade do tráfico negreiro, que gerava altos lucros para os que faziam parte dos que forçavam os negros a serem vendidos e arrancados de suas terras na condição de povo escravizado.
Unidos de Bangu na Sapucaí (Foto: Gabriel Monteiro/Riotur)
O enredo evidenciou a descrição desse povo lutador desde os primórdios da gênese africana, antes mesmo da colonização. O carnavalesco representou a cultura e os costumes dos congoleses, desmistificando a existência histórico-cultural do africano unicamente dominado. A Unidos mostrou os negros de forma a valorizá-los através das suas fascinantes lutas, mostrando que havia nobreza na África antes do continente ser invadido pelos portugueses.
A escola de Bangu trouxe elementos fortes como o aparecimento do continente Africano através da Savana, a sua fauna e flora, e também alguns outros componentes, tal como os tecidos e metais, que descreviam os artigos de venda daquele que representavam aquele povo. A Sapucaí foi tomada por representação de navios negreiros, escravos, e os porões onde grande parte desses que eram contrabandeados foram expostos à doenças e maus tratos que levavam à morte prematura.
A Vermelho e Branco mostrou na avenida um desfile de cunho social e crítico, e trouxe uma reflexão do escravismo aos dias de hoje, mostrando antigo período histórico na forma de um enredo contado por Griô, que deixou marcas sociais ligadas à segregação e exclusão baseada em um racismo cordial. A conexão gerada pela agremiação, pode ser encontrada nos tamboris, na batucada e nos versos do samba da escola mais antiga da Zona Oeste, que almeja chegar ao Grupo Especial do carnaval carioca.
No entanto, houve alguns problemas durante a passagem da agremiação pela Marquês de Sapucaí, um dos carros teve problemas de luz, e a bateria não entrou no recuo. Estes pequenos transtornos podem acarretar em perdas de pontuação. O que pode fazer com que a escola não alcance o almejado posto de Campeã da Série A do carnaval carioca. (*colaboraram Rafael Max e Jaqueline Araújo)
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