RIO - Pode ter sido a última vez que o Sambódromo da Marquês de Sapucaí ouviu a frase "Olha a Beija-Flor aí, gente!" na voz de Neguinho da Beija-Flor. Isso porque o cantor está de despedida da função de intérprete de sambas-enredo - Neguinho garantiu que vai repetir a dose caso a escola venha a desfilar no sábado das campeãs. Coincidência ou não, o último ato veio na homenagem a Luiz Fernando Ribeiro do Carmo, o Laíla (1943-2021), ex-diretor de carnaval da Beija-Flor e responsável por grandes desfiles embalados com a voz de Neguinho da Beija-Flor. O enredo "Laíla de Todos os Santos, Laíla de Todos os Sambas" foi desenvolvido pelo carnavalesco João Vitor Araújo.
A Beija-Flor buscou traçar o perfil religioso, artístico e carnavalesco de Laíla. Notório umbandista, Laíla snão deixava de aparecer publicamente com símbolos religiosos quando entrava na Marquês de Sapucaí. Não foi à toa que a religiosidade abriu o desfile da Beija-Flor na Avenida. A comissão de frente representou o orixá Xangô apresentando o nome de Laíla. O carro abre-alas também representou o orixá Xangô. Já as alas seguintes apresentaram as influências religiosas de Laíla, como a sua fé sincretizada.
Depois, a azul e branco falou sobre a ancestralidade africana e o protagonismo do povo preto, pois Laíla sempre lutou pela visibilidade e importância dos negros na cultura brasileira. O setor seguinte mostrou as influências de Laíla, da música clássica ao samba.
Laíla também passou por outras escolas em sua carreira. A Beija-Flor dedicou um setor às passagens do profissional por outras agremiações, com a Unidos da Tijuca, União da Ilha, Vila Isabel e Grande Rio.
Por fim, a Beija-Flor abraçou a carreira de Laíla na escola e lembrou de Joãosinho Trinta, com quem esteve no enredo "Ratos e Urubus, larguem a minha fantasia", vice-campeã do carnaval de 1989. A referência estética ao clássico desfile foi a responsável por fechar a apresentação da Beija-Flor.
O chão forte marcou o desfile da Beija-Flor na Marquês de Sapucaí. A "paradona" da bateria da Beija-Flor fez a escola cantar o samba em uma só voz, dando o tom de emoção necessário para a homenagem a Laíla. Sem vencer um campeonato desde 2018 e ausente no último desfile das campeãs, a agremiação nilopolitana busca um voo maior no carnaval de 2025.
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